Escalada da actividade petrolífera e do gás ameaça objetivos climáticos de Paris

Publicado: 28/03/2024, 14:09

Os produtores mundiais de combustíveis fósseis estão a caminho de quase quadruplicar a quantidade de petróleo e gás extraídos em novos projetos aprovados até ao final desta década, com os EUA a liderar uma vaga de atividade que ameaça destruir os objetivos climáticos acordados, segundo um relatório da Global Energy Monitor.

A Agência Internacional de Energia (AIE) revelou, em 2021, que não pode haver novas infraestruturas de petróleo e gás para que o planeta não ultrapasse os 1,5°C de aquecimento global, acima da era pré-industrial. A ultrapassagem deste limiar de aquecimento, acordado pelos governos no âmbito do Acordo de Paris sobre o clima, terá efeitos cada vez mais graves, como ondas de calor, inundações, secas e outros, alertaram os cientistas.


No ano passado, pelo menos 20 campos de petróleo e gás foram preparados e aprovados para extração após a descoberta. Até ao final da presente década, segundo o relatório, a indústria dos combustíveis fósseis pretende validar quase o quádruplo.

No entanto, desde a declaração da AIE em 2021, os países e as principais empresas de combustíveis fósseis avançaram com uma profusão de novas atividades de petróleo e gás. Desde então, foram descobertos pelo menos 20 mil milhões de barris de petróleo equivalente de novo petróleo e gás para futuras perfurações, segundo o relatório da Global Energy Monitor, uma ONG com sede em São Francisco.

Os EUA, que produziram mais petróleo bruto do que qualquer outro país nos últimos seis anos consecutivos, lideraram os novos projetos de petróleo e gás em 2022 e 2023, segundo o relatório. A Guiana ficou em segundo lugar, com os países americanos a representarem 40 por cento de todos os novos projetos petrolíferos sancionados nos últimos dois anos.

O facto de não se conseguir abrandar, mesmo que ligeiramente, a procura de novo petróleo e gás pode constituir um golpe fatal para as já escassas esperanças de que o mundo se mantenha abaixo dos 1,5°C, um limite que os cientistas esperam que seja ultrapassado dentro de uma década.

Isto acontece numa altura em que as principais empresas petrolíferas e de gás não atenuam os seus próprios objetivos de redução das emissões de gases. Numa recente conferência do sector no Texas, o chefe da Saudi Aramco, a maior empresa petrolífera do mundo, afirmou que as pessoas deveriam "abandonar a fantasia" de eliminar gradualmente o petróleo e o gás.
A jazida de gás de Shahini, no Irão - alegadamente com 623 mil milhões de metros cúbicos de gás - é a maior descoberta dos últimos dois anos, seguida do projeto Venus da TotalEnergies na Namíbia. O projeto Kodiak, no Alasca, supervisionado pela Pantheon Resources, é o terceiro maior campo potencial de petróleo e gás.

"Apesar dos avisos constantes e claros de que nenhum novo campo de petróleo e gás é compatível com 1,5ºC, a indústria continua a descobrir e a aprovar novos projetos", afirmou Scott Zimmerman, gestor de projeto de extração de petróleo e gás da Global Energy Monitor. "É dececionante. Mostra uma falta de compromisso do lado da oferta com os objetivos climáticos".

As infraestruturas de petróleo e gás já em funcionamento serão suficientes para fazer com que o mundo ultrapasse os 1,5ºC e a atividade adicional planeada só irá aumentar ainda mais a temperatura global.

Segundo o documento da Global Energy Monitor, desde o relatório da AIE de 2021, foram sancionados 45 projetos, com 16 mil milhões de barris de petróleo equivalente, o que constitui quase de certeza uma subestimação das emissões futuras, uma vez que não inclui a extração "não convencional", como o fracking (método que possibilita a extração de combustíveis líquidos e gasosos do subsolo).

Apesar de os EUA terem mantido o seu estatuto de peso-pesado no petróleo e no gás com as novas descobertas, os produtores de combustíveis fósseis estão agora a concentrar-se em novas áreas do globo para nova produção, com a América do Sul e a África a tornarem-se pontos quentes para os próximos projetos.

Dos 22 países com descobertas significativas de petróleo e gás nos últimos dois anos, quatro - Chipre, Guiana, Namíbia e Zimbabué - foram responsáveis por mais de um terço das descobertas, apesar de terem produzido pouco ou nenhum petróleo e gás até há pouco tempo.

"Os produtores de petróleo e gás apresentaram todo o tipo de razões para continuarem a descobrir e a desenvolver novos campos, mas nenhuma delas é válida", acrescentou Zimmerman. "A ciência é clara: não há novos campos de petróleo e gás, ou o planeta será empurrado para além do que pode suportar." (RM-RTP)

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