O padre Miguel de Salis Amaral, que colaborou com o então cardeal Roberto Prevost, considera que o novo Papa terá como prioridade a promoção da paz num mundo em guerra, com a modernização do sistema diplomático internacional.
O perito, professor da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, participou no Sínodo e partilhou um painel em Outubro do ano passado com o então prefeito do Dicastério dos Bispos e actual Leão XIV, num fórum teológico-pastoral sobre a "relação mútua entre a Igreja local e a Igreja universal".
"Nós estamos a ver que há um deslocamento do centro do mundo dos Estados Unidos para outras zonas do mundo, em concreto, [para] a Ásia, que está cada vez mais a aglutinar os processos de decisão", mas, para gerir os problemas, "mantemos uma arquitectura de encontro entre as nações, que ainda é aquela que temos da ONU, que nasceu em 1945", uma "arquitectura muito antiga", afirmou Miguel de Salis Amaral, em declarações à agência Lusa e agência Ecclesia.
"Há ali qualquer coisa que nós temos que resolver", disse o sacerdote, professor de eclesiologia e ecumenismo, considerando que o novo "Papa vai dar algumas sugestões", mas "não manda no mundo".
"Nós estamos numa situações de guerra e a ONU está-se a revelar, infelizmente, um instrumento obsoleto, não porque seja um instrumento mau, mas porque o mundo se está a deslocar para outro lado", explicou.
"O mundo hoje está numa situação que eu compararia com a situação que nós tínhamos antes da Primeira Guerra Mundial", com "uma classe política que não está à altura das circunstâncias", muitas vezes "por razões que parecem demasiado frívolas para um olhar de fé, porque é só pensar em dinheiro ou em poder", considerou o professor universitário.
E deu os exemplos dos conflitos entre a Ucrânia e Rússia, Israel e a Palestina ou a Índia e o Paquistão, como sinais de um mundo que está a "caminhar "alegremente" para uma guerra como aqueles países antes da Primeira Guerra Mundial, caminhavam alegremente" para o conflito militar global.
A diplomacia internacional tem hoje "instrumentos que são antiquados e que precisam de ser reformados", defendeu.
Sobre isso, o "Papa vai dar algumas sugestões", mas "não manda no mundo", avisou Salis Amaral.
A escolha do nome de Leão evoca o primeiro para como esse nome, Leão Magno, que negociou a paz com Átila, líder dos hunos, e salvou a cidade de Roma.
Por isso, penso que [Leão XIV] vai ser um defensor da paz e vai tentar que os Átilas que há por aí pelo mundo sejam parados, não com a força das armas,", mas com "uma paz desarmada e desarmante", disse, citando uma sua expressão no discurso inaugural, a partir da varanda da Basílica de São Pedro, na quinta-feira à tarde.
O sacerdote mostrou-se entusiasmado com a escolha de Prevost, porque é "uma pessoa que conhece muitos países, foi missionário e isso garante um lançamento à evangelização, à atenção às pessoas e um conhecimento de várias circunstâncias", a partir de uma cultura que "não é anglo-saxónica, é latina e é inca".
No plano interno, será necessário continuar o Processo Sinodal, um debate interno da Igreja para abordar a resposta a temas fraturantes de relação com a modernidade e ao papel dos leigos na própria gestão da organização.
Neste caso, "o problema não é simplesmente [assegurar]a continuidade, porque o Papa Francisco abriu muitos dossiers", porque "a questão é como levá-los para diante", porque "nunca se tinha feito um sínodo com tanta gente, tantos leigos, tantos padres, tantos religiosos e religiosas", explicou.
Por isso, "espero que, ao longo destes anos de pontificado, haja uma abertura cada vez maior ao Espírito Santo", defendeu o religioso.
O cardeal Robert Francis Prevost, 69 anos, foi eleito na quinta-feira Papa, após dois dias de conclave, na Cidade do Vaticano, e assumiu o nome de Leão XIV.
Nascido em Chicago, Estados Unidos, o novo Papa tem ascendência espanhola e nacionalidade peruana, e pertence à Ordem de Santo Agostinho, tendo sido bispo de Chiclayo (Peru) e era o Prefeito do Dicastério dos Bispos.
Leão XIV sucede ao Papa Francisco, que morreu em 21 de Abril, aos 88 anos. (RM /NMinuto)
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