COP28: África tem de reformular o mercado de carbono a seu favor

Publicado: 05/12/2023, 11:58
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A Corporação Financeira Africana (AFC) defendeu esta segunda-feira que o continente tem de aproveitar melhor o mercado de carbono, apostando na conservação e regeneração das florestas e não na venda e exploração por empresas estrangeiras.

"O mundo está a puxar África para repetir os erros do passado; em vez de maximizar o valor económico dos nossos activos naturais, os intermediários estrangeiros estão a tentar obter licenças de exploração e compra das nossas terras, esperando lucrar com um preço mais apropriado do carbono, o que materializa a 'maldição dos recursos' de décadas passadas", disse o presidente da AFC, Samaila Zubairu.

A ideia conta do relatório "Como Pode África Desbloquear a Solução Mais Promissora para as Emissões Zero", que o presidente da AFC apresentou durante a COP28, que está a decorrer no Dubai, sobre o mercado de créditos de carbono, em que os países ou empresas compram o direito de poluir em troca de investimentos em meios ambientais que permitam cancelar os efeitos nocivos dessas emissões de carbono.

"Em vez de vender os nossos direitos de utilização da terra ao mercado desvalorizado do carbono, devíamos focar-nos na conservação e reflorestação liderada por atores locais, que teriam a seu cargo o financiamento, a verificação e o comércio" dos níveis de cancelamento das emissões nocivas para o planeta, defendeu Zubairu.

No relatório, a AFC advoga que o continente africano, com as suas grandes florestas naturais, devia tornar-se o centro para créditos de carbono de elevado valor e integridade, garantindo que as emissões dos países e empresas mais poluente eram compensadas pelo efeito de cancelamento das emissões que é alcançado através da potenciação das capacidades das florestas para anularem os efeitos da emissão destes gases.

O que acontece, lê-se no relatório, é o contrário: "Num momento crítico para a luta contra as alterações climáticas, o mundo está a desperdiçar uma oportunidade significativa, ao negligenciar os repositórios de carbono mais importantes do mundo, as florestas, prados, turfeiras e mangais de África".

O mercado de carbono parte da ideia de que os países e empresas mais poluentes deviam investir em mecanismos que aumentem o efeito de absorção dos gases nocivos que é garantido pelas florestas, nomeadamente em África, devido à vastidão deste 'pulmão verde'.

"Apesar de ser visto por alguns como uma panaceia climática, o mercado para a compensação das emissões de carbono está a ser afectado por repetidos escândalos, como projectos de conservação minados por exploração, que é agravada pela corrupção, negócios de compensação de carbono que na verdade não representam qualquer redução das emissões, e a desflorestação mudada para regiões que não estão cobertas pelo acordo, para além de comunidades deslocadas que não ganham nada com os contratos assinados em seu nome", diz a AFC.

O resultado, conclui, "é uma machadada na confiança do mercado, que é comprovada pelo dramático declínio da emissão e dos preços dos créditos de carbono", nomeadamente em África, que representou "apenas 11% das licenças de cancelamento das emissões emitidas entre 2016 e 2021", apesar da sua significativa contribuição para a mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

"O que é certo, é que a interacção de África com os mercados globais de carbono tem de mudar; temos de tomar as rédeas da conservação e expansão das nossas florestas, e precisamos de criar a nossa cadeia de valor de redução de emissões de carbono com uma participação global que capture e mantenha valor em África e no mundo para as próximas gerações", sublinhou Samaila Zubairu.

A cimeira do clima que começou na quinta-feira no Dubai vai debater estratégias de adaptação e mitigação, apoios financeiros, e fazer um balanço de oito anos de acção climática, que a ONU diz ir no sentido errado.

A Corporação Financeira Africana é uma entidade criada em 2007 para potenciar o investimento privado em infra-estruturas em África, tendo 42 estados membros e investido 12,7 mil milhões de dólares, cerca de 11,6 mil milhões de euros, desde então, de acordo com a informação disponível no site. (RM-NM)

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