Enfermeiras do SMI juntam-se para prevenção da fístula obstétrica em Nampula e Niassa

Publicado: 19/02/2024, 14:12

A Focus Fístula Moçambique, uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que intervém na saúde uro-ginecológica, com foco na prevenção e tratamento da fístula obstétrica em parceria com a EngenderHealth e Ministério da Saúde e apoio da USAID realizou de 15 a 18 de Fevereiro uma formação de enfermeiras do Serviço Materno Infantil (SMI) das províncias de Nampula e Niassa sobre prevenção, diagnóstico e cuidados da fístula obstétrica.

A formação tinha em vista doptar as enfermeiras de conhecimentos e habilidades em aspectos críticos da prevenção - diagnóstico, encaminhamento e cuidados pré e pós-operatórios de pacientes de fístula obstétrica, visando contribuir para reforçar os cuidados de SMI no âmbito da prevenção e combate a fístula obstétrica em Moçambique.

Segundo Emília Sueia, médica ginecologista, uma das formadoras esta formação é acertada pois vai permitir às enfermeiras terem a fístula obstétrica no centro das suas atenções.

“A fístula obstétrica é um problema de saúde pública e requer uma intervenção a todos níveis. As enfermeiras lidam com a comunidade e têm um papel central na prevenção da fístula. No entanto, elas não podem exercer devidamente este papel sem estarem munidas de conhecimentos sobre a doença, das causas, como prevenir, como diagnosticar e encaminhar para o tratamento”, disse, indicando que com a formação espera ver mudanças com vista a se reduzir os casos da doença.

“Espero que haja mudanças nos nossos locais de trabalho. Mudança no sentido positivo na componente preventiva, que é no pré-natal e na componente prática que é nas nossas salas de parto, na monitorização das nossas utentes, pois ao fazermos isso penso que 90 porcento do trabalho estará feito para reduzir a ocorrência de fístulas. As enfermeiras do SMI têm muita interacção com a comunidade, mas esta componente de fístula é muito esquecida. Mas esperamos que com esta formação já vai fazer parte das nossas palestras e do nosso trabalho”.

As enfermeiras que se beneficiaram da formação são provenientes dos distritos de Nampula, Moma, Erati, Nacala, Monapo (Nampula), Lichinga, Mandimba, Cuamba, Lago e Marrupa (Niassa).

Natalia Leonel, enfermeira do SMI no Centro de Saúde de Marrupa na província de Niassa aponta a chegada tardia das mulheres nas unidades sanitárias e os partos realizados fora das unidades sanitárias como sendo os grandes desafios para se eliminar a fístula.

“No distrito onde estou temos sim casos de fístula embora não se registam números elevados. Os casos que temos recebido resultam de trabalho de parto prolongado muitas vezes devido a demora na chegada às unidades sanitárias. E nós como enfermeiras do SMI quando se tratava de fístula ainda estávamos muito adormecidas, dificilmente conseguíamos diagnosticar que uma mulher tinha fístula. A nossa interpretação era que se tratava de uma infecção urinária, ou não dávamos atenção a aquela paciente. Isto acontece porque fala-se muito pouco da fístula nas unidades sanitárias. É algo diferente do que acontece com outros programas como planeamento familiar, é algo que falamos todos dias nas palestras, mas quanto a fístula é algo que ficava sempre esquecido”.

Com a formação acredita que o cenário vai mudar. “Nós ouvíamos falar da doença, mas não sabíamos qual era a causa, o que acontece com a mulher com fístula, como podemos prevenir, enfim, com a formação pude compreender a gravidade da doença e qual é o nosso papel como enfermeiras do SMI para travar a doença. Acredito que cada uma das enfermeiras que esteve na formação vai fazer a sua parte para mudar o cenário quanto a esta doença. Vamos incluir este tema nas nossas palestras que formos a fazer na comunidade e na unidade sanitária. Vamos trabalhar com os nossos colegas do envolvimento comunitário pois eles são a chave na prevenção das doenças”.

Por sua vez, Margareth Josseph, enfermeira do SMI em Moma, diz que apesar de uma tendência de redução de casos no distrito de Moma onde são realizadas cirurgias de casos simples, ainda prevalecem práticas de risco nas comunidades.

“Tínhamos muitos casos de fístula no nosso distrito e a maioria era de mulheres com idades inferiores. Agora temos estado a trabalhar com líderes comunitários para se acabar com casamentos prematuros está a diminuir um pouco. Em Moma descobrimos um centro onde realizavam partos. Tinham parteiras tradicionais que incentivavam aquelas práticas. Tivemos de realizar palestras com líderes comunitários e temos estado a ajudar para a redução de casos, mas ainda temos casos de mulheres que realizam partos fora das unidades sanitárias”.

Em relação à formação considera que foi uma mais-valia pois a informação em relação à doença ainda era escassa.

“Com esta formação vamos poder mapear facilmente a proveniência dos casos, identificar as causas e desta forma podermos realizar trabalho localizado com o pessoal da saúde e com a comunidade. A nossa luta agora é no sentido de prevenir esta doença. Agora temos ferramentas para isso e para estarmos mais atentas para factores de risco da doença”, disse Margareth.

Em Moçambique os dados apontam para a existência de mais de 2.500 novos casos de fístula obstétrica por ano.

Apesar dos esforços para se eliminar a doença, a fraca qualidade dos cuidados pré-natais continua a impedir o progresso nos cuidados obstétricos de emergência, na identificação das complicações obstétricas com trabalho de parto prolongado e obstruído, na disponibilidade de parto por cesariana e na decisão de referência à cuidados especializados.

Em paralelo, os hospitais provinciais e distritais com capacidade para cirurgia, carecem de recursos humanos especializados e suficientes para realizar a cirurgia, bem como para prestar cuidados pré e pós cirúrgicos.(RM)

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