Mali: Nove meses depois de golpe de Estado, país enfrenta nova incerteza

Publicado: 25/05/2021, 18:45
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O Mali, que em agosto de 2020 foi palco de um golpe militar que afastou o então Presidente, enfrenta uma nova incerteza, depois de os atuais chefes de Estado e de Governo de transição terem sido detidos pelo Exército.

 

A iniciativa, que líderes europeus apelidaram de "tentativa de golpe de Estado" -- com o Presidente francês, Emmanuel Macron, a chamar mesmo "golpe de Estado dentro do golpe de Estado", é o mais recente episódio num dos países mais pobres do mundo, um enclave no Sahel que é atormentado frequentemente por grupos 'jihadistas'.

Com uma população de mais de 19 milhões de pessoas, composta por cerca de 20 grupos étnicos que colidem em conflitos intercomunitários, o Mali é uma antiga colónia francesa que se encontra na posição 184 entre os 189 países que integram o Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

No ano passado, duplamente penalizada pelo golpe de Estado de agosto e pela pandemia de covid-19, a economia maliana contraiu 2%, depois do aumento de 5,1% em 2019, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).

Após o sequestro do Presidente de transição, Bah Ndaw, e do primeiro-ministro, Moctar Ouané, na segunda-feira, viriam a ser demitidos pelo vice-presidente de transição e líder militar, Assimi Goita.

Numa declaração lida na televisão nacional, o vice-presidente de transição no Mali, o coronel Assimi Goita, anunciou hoje que demitiu o seu superior, o Presidente Bah Ndaw, bem como o primeiro-ministro, Moctar Ouané, assegurando que "o processo de transição continua o seu curso" e que haverá eleições em 2022.

A instabilidade atual segue a tendência de instabilidade no país, palco de dois golpes de Estado nos últimos nove anos: primeiro em 2012, com o afastamento do então Presidente Amadou Toumani Touré, por militares malianos descontentes com a gestão da rebelião tuaregue, e, em agosto de 2020, após meses de protesto contra o chefe de Estado Ibrahim Boubacar Keita devido à gestão da insurgência 'jihadista', alegada corrupção governamental e a uma economia danificada.

Deste último golpe, e após pressão internacional, os militares concordaram em nomear um Presidente de transição e devolver o poder aos civis no espaço de 18 meses.

Assimi Goita, que liderou o golpe que em agosto de 2020 afastou Ibrahim Boubacar Keita, insistiu no "compromisso infalível" das forças armadas do Mali em defender a segurança do país, mas não indicou pormenores sobre o paradeiro do Presidente e primeiro-ministro, detidos na segunda-feira.

Após várias horas de expectativa desde a detenção de Ndaw e Ouané, Goita justificou a ação com uma "crise de muitos meses a nível nacional", em referência às greves e várias manifestações convocadas no país por atores sociais e políticos.

A detenção de Ndaw e Ouané ocorreu horas após o anúncio da composição de um novo Governo formado pelo primeiro-ministro, o que, segundo várias fontes, causou desconforto entre os líderes do golpe militar pela exclusão de dois comandantes militares.

Assimi Goita indicou também que "o processo de transição seguirá o seu curso normal e que as eleições planeadas se realizarão durante 2022".

Goita, chefe dos militares que derrubaram o presidente eleito Ibrahim Boubacar Keita em 18 de agosto de 2020, culpou o Presidente Bah Ndaw e o primeiro-ministro Moctar Ouane pela formação de um novo Governo sem o consultar previamente, apesar de ser o responsável pela Defesa e Segurança, áreas cruciais no país.

O coronel Goita disse que, neste contexto, foi "obrigado a agir" e a destituir das "suas prerrogativas" o Presidente, o primeiro-ministro e todos os envolvidos na situação.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Mali declarou hoje, em comunicado, que está a acompanhar "com preocupação a deterioração da situação sociopolítica" no país, condenando a prisão "ilegal e arbitrária" dos dois responsáveis e de outras personalidades civis e políticas.

Na mesma linha, a comunidade internacional reagiu contra o golpe, sendo a preocupação com a situação e o pedido de libertação "imediata e incondicional" dos responsáveis transversal a organizações e países, incluindo Nações Unidas, Comissão Europeia, Estados Unidos da América, Alemanha ou França, tendo esta última não descartado a aplicação de sanções, segundo o seu Presidente, Emmanuel Macron.

Uma delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deverá chegar hoje à capital maliana, Bamaco. A CEDEAO tem supervisionado o processo de transição em curso nos últimos meses.

Desde a sua independência de França, em 1960, o Mali foi palco de vários golpes de Estado, resultantes de motins por militares em 1968, 1991, 2012 e 2020. (RM-NM)

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