Relatório denuncia "exclusão" de mulheres de várias etnias no jornalismo

Publicado: 30/11/2022, 13:48

A análise concluiu que, por cada editora de uma determinada etnia, há entre dois a 12 homens no mesmo cargo, além de esclarecer uma enorme falta de representatividade nos assuntos noticiados.

Um relatório divulgado esta quarta-feira concluiu que as mulheres de diversas etnias são alvo de uma "cultura de exclusão" nas principais redacções de seis países anglófonos, especialmente no Reino Unido e nos Estados Unidos, concluindo que mulheres não-brancas são muito menos contratadas para cargos de jornalismo, especialmente para editorais.

análise, realizada pela investigadora Luba Kassova, com investimento por parte da Fundação Bill & Melinda Gates, escrutinou dezenas de órgãos de comunicação no Reino Unido, Estados Unidos, Nigéria, Índia, África do Sul e Quénia, também expôs que é muito menos provável uma mulher não-branca ser alvo de uma peça jornalística do que qualquer pessoa branca.

Segundo a investigação, noticiada no The Guardian (um de 76 órgãos britânicos escrutinados), por cada mulher num cargo de editora-executiva há entre dois a 12 homens no mesmo cargo, uma disparidade de oportunidades que se faz sentir em países com uma população etnicamente mais diversa - especialmente na África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos. Aliás, apenas em 37% dos grupos mediáticos britânicos analisados há uma mulher editora e, no total, apenas 1% tem uma mulher não-branca na liderança de uma secção.

"Para mim, esta é de longe a descoberta mais preocupante, stressante e importante em que devemos agir urgentemente", disse Kassova, a autora do estudo, salientando que os dados relativos ao Reino Unido são particularmente difíceis de ler, dada a falta de representatividade que as mulheres negras e asiáticas têm num país tão multicultural. "Comparativamente com a sua proporção na população britânica, e comparativamente com a África do sul e os Estados Unidos, as mulheres de diversas etnias estão drasticamente sub-representadas ou simplesmente ausentes de cargos editoriais no Reino Unido", disse.

Os dados recolhidos mostram que, num país com grande população negra devido ao impacto da colonização britânica por todo o mundo, especialmente no continente africano e nas Caraíbas, não existe uma única mulher não-branca num cargo de editora em secções de política, assuntos internacionais ou de saúde.

A principal consequência desta falta de representatividade é, naturalmente, uma falta de consumo de noticias por parte da população feminina, que o relatório estima ser 11% a 12% inferior ao consumo de notícias dos homens.

E, além disso, a falta de presença de mulheres em redacções simboliza uma escassez de notícias sobre problemas relativos à população feminina: por exemplo, a análise abordou 900 mil peças jornalísticas, e notou-se uma notória ausência de temas como a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Entre 2017 e Abril de 2022, apenas uma em cada 5.000 reportagens em todo o mundo abordou temas relativos a problemas de igualdade de género.

Luba Kassova explica que as mulheres de diversas etnias "experienciam enormes níveis de exclusão e permanecem invisíveis dentro de organizações de notícias ou da indústria mediática, como líderes e protagonistas de reportagens".

O relatório acrescenta que a falta de representatividade de mulheres não-brancas nos média é particularmente incompreensível no Quénia, na Nigéria e na Índia - este último é o país com maiores problemas de representatividade, onde apenas uma em cada dez editores-executivos de um órgão de comunicação é uma mulher.

Um dos grandes obstáculos descrito pelos inquiridos das dezenas de órgãos de comunicação é o "factor maternal", com muitas mulheres a vincarem que a possibilidade de se tornarem mães é um dos motivos pelo qual nunca são promovidas ou contratadas para cargos de editora. Uma entrevistada disse mesmo que, quando um editor homem lhe disse que tinha um excelente currículo jornalístico, não deixou de acrescentar que esta devia "deixar o útero à porta". (RM)

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