Tomás Vieira Mário lança o livro “Carta ao Meu Pai e Outras Memórias”

Publicado: 13/10/2020, 17:58
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O jornalista e escritor, Tomás Vieira Mário, lança esta sexta-feira, em Maputo, a sua mais recente obra literária, intitulada “Carta ao Meu Pai e Outras Memórias”.

 No livro, o autor narra suas vivências humanas desde a adolescência no meio rural em que nasceu e cresceu, na província de Inhambane e estórias do seu percurso profissional, de mais de quatro décadas.

Tal como vem expresso na própria “Nota do Autor”, a obra apresenta-se como uma homenagem do jornalista aos seus pais, entretanto já falecidos, ao mesmo tempo que assinala os seus 43 anos de carreira jornalística, iniciada na Rádio Moçambique em Outubro de 1977.

O livro divide-se em cinco capítulos, que captam vivências  registadas a partir de igual número de localidades, nomeadamente a sua aldeia natal, Nzualo, no distrito de Homoíne, e sucessivamente, as cidades de Maputo, Lichinga, Lisboa e Roma.

Usando a técnica de pequenas estórias, onde a crónica jornalística, baseada em factos, confunde-se com o conto enquanto criação literária, o autor viaja no tempo e no espaço, entrando pela porta do sistema de ensino colonial no meio rural, dominado pela Igreja Católica Romana, para logo a seguir mergulhar nos anos gloriosos da independência nacional, a que se segue a revolução popular, que o jornalista vai viver intensamente a partir da província do Niassa, aonde passa os primeiros três anos da sua carreira. Inevitavelmente, a memória do sacrifício consentido, em nome da promessa do “Homem Novo”, a emergir das “zonas libertadas” de Mavago.

Mesmo a propósito da experiência do jovem jornalista no Niassa, Almiro Lobo, que escreve o prefácio do livro, diz a dado passo: “Da sua experiência no Niassa – mítica província nortenha de felicidade adiada - despontam algumas das perplexidades que irrompem do confronto com a realidade que os discursos triunfalistas não traduziam”.

Os ciclos de Maputo e de Lisboa vão coincidir com os anos da guerra fratricida que, ao longo de 16 anos, vai dilacerar o país, então em confrontação violenta com o regime do apartheid da África do Sul, em cujo território vai morrer o Presidente Samora Moisés Machel e sua comitiva, de mais de 30 membros.

Quando o avião transportando Samora Machel cai nas montanhas de Mbuzini, um dos colaboradores mais próximos do estadista moçambicano, o escritor Luís Bernardo Honwana, então Secretário de Estado da Cultura, encontra-se em missão oficial em Portugal. No mesmo avião morre o seu irmão mais novo, o Fernando Honwana. E o autor de “Nós Matamos o Cão Tinhoso” vai balbuciar: “De novo, a História de Moçambique surpreende-me no caminho…foi também assim no dia da proclamação da independência nacional”.  Uma estória humana profundamente comovente, que preenche algumas páginas da “Carta ao Meu Pai e Outras Memorias”.

A partir da capital portuguesa, onde o autor exerce as funções de correspondente da Agência de Informação de Moçambique (AIM) Tomás Vieira Mário descreve a guerra como ela era vista pela imprensa portuguesa e não só, com o seu rasto de destruição e rios de sangue humano, simbolizados, enfim, pelo massacre de Homoíne, ocorrido em Julho de 1987. “Olha como os moçambicanos estão a matar-se uns aos outros como cães”, diz então alguma imprensa portuguesa.

Entre as memórias da sua passagem por Lisboa, há uma viagem ao arquipélago dos Açores, aonde o jornalista vai seguir as peugadas do Imperador Gungunhana, exilado na Ilha Terceira, desde 1896, na companhia de seus aliados, Mulungo e Zilhalha, e do filho Godide. E vai, aqui, cruzar-se, cara a cara, com uma memória viva da humilhação colonial: a figura de Roberto Frederico Zichacha, terceiro descendente do Régulo Ronga, Zilhalha Nwamatibjana, que ali deixara um remédio para a tosse, uma solução que leva, exactamente, o nome de Xarope Zichacha, ainda hoje muito usado na Ilha atlântica.

A saga de mais de 40 anos de profissão desemboca na capital italiana, Roma, a chamada “Cidade Eterna”, aonde o jornalista afirma ter conhecido melhor Moçambique, ao fazer a cobertura jornalística das históricas conversações de paz, que culminaram com a assinatura do Acordo Geral de Paz, num processo catártico que viria a por termo à guerra de 16 anos, entre o Governo e a Renamo. “ Em Roma ganhei uma doença que nunca tinha tido antes: a enxaqueca aguda”, recorda o autor.

O livro termina com um “Ciclo Universal”, o qual, por sua vez, fecha com uma estória que, sendo proveniente do Quénia, bem pode ser transposta para a realidade actual de Moçambique. A estória tem como titulo: “É a nossa vez de comer”!

E, citando o poeta chileno, Pablo Neruda, Tomás Vieira Mário termina a nota de apresentação da carta ao seu pai, dizendo: “Confesso que vivi”.(RM)

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