Síria: 154 mortos em ataque a prisão com menores usados como "escudo"

Publicado: 24/01/2022, 17:30
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As Forças curdas na Síria enviaram esta segunda-feira reforços e bloquearam o acesso a Hassaké (nordeste), temendo-se pelo destino de centenas de menores detidos que estão a ser usados pelo grupo radical Estado Islâmico (EI) como "escudos humanos".

 

Na noite de quinta-feira passada, mais de 100 'jihadistas' do EI invadiram a prisão de Ghwayran, na região de Hassaké, com camiões bomba e armas pesadas, ao que se seguiram violentos confrontos ao longo de vários dias em redor e dentro desta prisão, actualmente controlada pelos extremistas.

Segundo o balanço divulgado hoje pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), registaram-se 154 mortos em cinco dias de combates entre as forças curdas e os 'jihadistas' -- 102 combatentes extremistas, 45 soldados curdos e sete civis. 

O OSDH sublinhou que as Forças Democráticas Sírias (FDS) - que lideram a luta contra o EI, dominadas pelos curdos e que contaram com o apoio da coligação internacional conduzida pelos Estados Unidos - consolidaram as posições em torno da prisão, com o objectivo de realizar um ataque, numa altura em que os combates diminuíram de intensidade no domingo à noite.

No entanto, o avanço está a ser dificultado pela presença de menores na prisão, feitos "reféns" e usados como "escudos humanos" pelos 'jihadistas', indicaram as FDS, num comunicado.

Anteriormente detidos num "centro de reabilitação", os menores encontram-se agora encerrados numa camarata da prisão, acrescentaram.

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), estarão retidos cerca de 850 menores, alguns deles com menos de 12 anos.

A UNICEF pediu protecção para os menores e sublinhou o "risco" de as crianças ficarem feridas ou serem recrutadas à força" pelo EI.

Segundo Sara Kayyali, investigadora da Human Rights Watch (HRW), "as crianças estão mesmo presas" na cadeia e a maioria delas tem idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos.

Kayyali adiantou à agência noticiosa France Presse (AFP) ter recebido uma mensagem de voz de um menor ferido em Ghwayran que lhe disse haver "cadáveres por toda a parte". "As crianças correm um risco considerável de ambos os lados", disse.

A ONG Save the Children, que também recebeu uma mensagem de voz de um menor a pedir ajuda, exigiu a retirada imediata das crianças da prisão.

Segundo o OSDH, a prisão de Ghwayran, uma antiga escola convertida em centro penal há três anos, estava sobrelotada e contava com pelo menos 3.500 'jihadistas' entre os detidos.

Principal apoio das forças curdas nas ofensivas contra o EI, a coligação estacionada na região mobilizou-se intensamente em torno de Hassaké.

Vários helicópteros da coligação estão a sobrevoar a área onde está localizada a prisão, segundo indicou um correspondente da AFP no local. No terreno, os combatentes curdos estão a intensificar os esforços para encontrar fugitivos.

As autoridades curdas decretaram um recolher obrigatório "completo" em Hassaké e arredores por sete dias, que entrou esta segunda-feira em vigor para "impedir que escapem membros das células terroristas".

Apenas os estabelecimentos de venda de produtos alimentares básicos manterão as portas abertas, numa altura em que o nordeste da Síria está a ser afectado por temperaturas negativas, o que dificultado a fuga aos combates dos civis que vivem em redor da prisão.

No entanto, segundo o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), desde o início dos confrontos, cerca de 45.000 pessoas fugiram já das suas casas em Hassaké.

Os curdos, que controlam regiões do norte e nordeste da Síria, há anos que pedem, em vão, o repatriamento de cerca de 12.000 'jihadistas' de mais de 50 nacionalidades -- europeus e outros -- detidos nas suas prisões.

Desencadeada em Março de 2011 pela repressão às manifestações pró-democracia, a guerra na Síria tornou-se mais complexa ao longo dos anos com o envolvimento de potências regionais e internacionais e a ascensão dos 'jihadistas'. O conflito provocou perto de meio milhão de mortos e milhões de deslocados e refugiados.

Apesar de derrotado em 2019, o EI ainda consegue realizar ataques mortíferos através de células de combatentes dispersas. (RM-NM)

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