Sudão: Governador do Darfur pede ao TPI que investigue crimes na região

O governador do Darfur pediu hoje ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que investigue os crimes cometidos naquela região do oeste do Sudão durante o conflito que começou em abril entre o Exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR).

"Exorto o Conselho de Segurança (da ONU) a pedir ao TPI que assuma a sua responsabilidade e investigue os assassinatos e os crimes cometidos no Darfur", afirmou Mini Arko Minaoui, numa gravação na sua conta oficial na rede social Twitter.

Denunciando os "assassinatos selectivos" e as violações em várias cidades do Darfur, Minaui advertiu para o risco de uma grande crise humanitária, semelhante ao que se passou em 2003, "porque agora [os agressores] têm mais capacidades".

O governador não nomeou nenhuma das partes no conflito que, desde 15 de Abril, já matou mais de mil pessoas, principalmente em Cartum e no Darfur, em particular na cidade de Al Geneina, no Darfur Ocidental.

Mais de dois milhões de sudaneses estão deslocados devido às hostilidades, incluindo meio milhão de refugiados que procuraram segurança nos países vizinhos.

Nos últimos dias, muitas vozes, incluindo a do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertaram para a crescente violência na região, gerando o receio de uma repetição do conflito de 2003-2008, no qual terão sido mortas pelo menos 300.000 pessoas.

Vários membros do governo do ditador Omar al-Bashir, que foi deposto em 2019, enfrentam acusações do TPI por alegados crimes contra a humanidade e genocídio relacionados com esse conflito.

"Eles matam líderes políticos, sociais e tribais", com métodos "muito sujos" e "crimes levariam a uma guerra civil que seria semelhante ao que aconteceu no Ruanda", acrescentou o governador do Darfur, referindo-se ao genocídio que abalou o Ruanda em 1994 e matou pelo menos 800 mil pessoas.

Minaoui, líder de um dos ramos do Movimento de Libertação do Sudão (SLM), afirmou que os grupos armados do SLM "existem no Darfur para proteger os quartéis-generais das missões internacionais e os mercados com poucas possibilidades". E apelou: "as partes beligerantes que evitem provocar-nos, para participarmos no conflito".

O governador de Darfur foi nomeado para o cargo em meados de 2021 no âmbito de um acordo de paz assinado na capital do Sudão do Sul, Juba, em 03 de Outubro de 2020, que abriu a porta para resolver o conflito de uma década em várias regiões do Sudão. (RM-NM)